Num estudo em curso, deparámo-nos com um fenómeno curioso numa tarefa de associação livre relativa ao estímulo Internet. Enquanto alguns participantes mencionavam redes sociais, outros davam exemplos de redes sociais, como o Facebook ou Instagram. Naturalmente, outros não evocavam nem uma coisa nem outra. Felizmente, ainda ninguém nos pôs a todos a mesma ideia na cabeça.
Estamos em crer que relativamente às ferramentas web 2.0 se passará algo de semelhante. Tal como a expressão redes sociais coloca no mesmo saco um conjunto de plataformas com características distintas, também a expressão ferramentas web 2.0 sintetiza ferramentas com propósitos diferentes e com potencial educativo próprio.
Num texto de 2010, Bower e colegas apresentaram um quadro de referência para integrar as ferramentas web 2.0 no ensino. Partindo do modelo TPACK, levaram em linha de conta três componentes:
- conteúdo
- pedagogia
- tecnologia
A organização do repositório mCiências, na verdade, inspirou-se parcialmente nestra proposta. O que é que ela tem para nos oferecer?
Em primeiro lugar, retoma uma versão revista da taxonomia de objetivos educativos de Bloom (1956) proposta por Anderson e Krathwohl (2001) para classificar o conteúdo do ponto de vista do tipo de conhecimento e dos processos cognitivos.
Em segundo lugar, organiza as abordagens pedagógicas de acordo com o nível de produção e de negociação que requerem dos alunos. Daqui resultam quatro categorias, conforme o quadro abaixo explicita.
Não há negociação | Há negociação | |
Não há produto | Transmissiva | Dialógica |
Há produto | Construtivista | Coconstrutivista |
Em terceiro lugar, propõe uma tipologia de 12 categorias para as ferramentas web 2.0. Note-se que a tipologia foi revista e aumentada sucessivamente, em 2015 (Bower, 2016) e em 2020 (Bower & Torrington, 2020). As categorias incluem, entre outras: wikis, criação partilhada de documentos, blogs.
Finalmente, sugere que a integração das ferramentas web 2.0 considera quatro elementos:
- os objetivos de aprendizagem;
- o conteúdo em termos de tipo de conhecimento e de processos cognitivos exigidos ao aluno,
- a abordagem pedagógica;
- as modalidades de representação (image, text, audio, and/or video) e a sincronicidade.
O texto termina com exemplos que mostram uma possível gramática para as ferramentas web 2.0. Isto é, as características próprias das ferramentas tornam-nas mais propícias para determinadas finalidades do que para outras. Ainda por outras palavras, as ferramentas não determinam nem os objetivos, conteúdo ou abordagens pedagógicas, mas dão fortes sugestões.
Veja-se dois exemplos:
Tipo de conhecimento | Abordagem pedagógica | Modalidades | Sincronicidade | |
Wikis (PB wiki) | Factual; concetual | Coconstrutivista | Texto; imagem | Assíncrona |
Partilha de vídeo (HowCast) | Procedimental | Construtivista | Imagem | Assíncrona |
Rotular um conjunto crescente e flutuante de ferramentas como web 2.0 não acrescenta: é um lugar comum. Organizará na aparência o nosso discurso, mas as ferramentas web 2.0 requerem sobretudo um olhar orientado pela finalidade pedagógica, baseado num conhecimento sólido das suas características. Cada um terá as suas preferências, mas o importante é que as escolhas sirvam os fins: ensinar e ensinar bem.
Referências
Anderson, L., & Krathwohl, D. (2001). A taxonomy for learning, teaching and assessing: A
revision of Bloom’s taxonomy of educational objectives. Longman.
Bloom, B. S. (1956). Taxonomy of educational objectives: The classification of educational goals. Longman Group.
Bower, M., Hedberg, J., & Kuswara, A. (2010, 09/01). A framework for Web 2.0 learning design. Educational Media International, 47, 177-198. doi: 10.1080/09523987.2010.518811
Bower, M. (2016). Deriving a typology of Web 2.0 learning technologies. British Journal of Educational Technology, 47(4), 763-777. doi: 10.1111/bjet.12344
Bower, M., & Torrington, J. (2020). Typology of Free Web-based Learning Technologies. Disponível em https://library.educause.edu/resources/2020/4/typology-of-free-web-based-learning-technologies
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