Ensinar com a Internet

Num texto de 2004, Wallace retrata três casos de estudo de integração da internet no ensino. Trata-se de um texto lúcido que, precocemente, identificou alguns desafios e características da Internet que afetam e condicionam a prática pedagógica.

Desafios da Internet

Segundo Wallace (2004), a Internet pode desafiar o que sabemos acerca:

  • da matéria a ensinar;
  • do que os alunos sabem e podem fazer;
  • do modo de acompanhar o trabalho dos alunos;
  • e do modo de estruturar a progressão da aprendizagem.

Por outras palavras, a originalidade de Wallace em 2004 consistiu em trazer a discussão acerca da integração da Internet para a sua relação com o conteúdo pedagógico (Shulman, 1986).

No início do milénio como no dealbar da década de 2020, os desafios da integração pedagógica da Internet têm as suas raízes no confronto com o desconhecido. A Internet coloca-nos perante o imprevisto.

Ao conhecimento de conteúdo, junta-se a necessidade de explorar, conhecer e dominar as diferentes affordances da Internet. O conceito de affordance apenas parcialmente se pode traduzir por característica. Com efeito, uma affordance guia a ação, à semelhança de um puxador de porta que sugere a abertura da porta.

Affordances da Internet

Wallace (2004) identificou cinco affordances da Internet, que resumidamente apresentamos:

  1. Fronteiras. A Internet não tem fronteiras físicas nem intelectuais definidas. O ambiente web é fluído. A delimitação do âmbito da atividade, dos seus fins e resultados esperados torna-se fundamental.
  2. Autoridade. A Internet não possui editores nem curadores. O escrutínio dos materiais é um desafio constante para o professor e para os alunos.
  3. Estabilidade. A Internet é o lugar do efémero, requerendo do professor uma sólida capacidade para lidar com o imprevisto.
  4. Contexto pedagógico. A estrutura da Internet não dá pistas ao professor sobre o percurso e evolução do trabalho dos alunos. Levanta-se aqui a questão de como acompanhar e avaliar os alunos.
  5. Contexto disciplinar. A maioria dos conteúdos disponíveis na Internet não foram pensados tendo em conta as necessidades pedagógicas do público escolar. Trata-se, portanto, de selecionar e integrar os conteúdos no currículo e nos objetivos de aprendizagem.

Mais do que um guia de ação, Wallace oferece um conjunto de dimensões-chave para refletir sobre as nossas práticas: com que desafios nos deparamos e que affordances nos condicionam ou potenciam quando ensinamos com a Internet?

Referências

Shulman, L. S. (1986). Those Who Understand: Knowledge Growth in Teaching. Educational Researcher, 15(2), 4-14. https://doi.org/10.3102/0013189X015002004

Wallace, R. M. (2004). A framework for understanding teaching with the internet. American Educational Research Journal, 41(2), 447-488.

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