Estudo da altura, intensidade e timbre com recurso a smartphones

A atividade foi desenvolvida com três turmas de 8º ano, nas aulas de Física e Química, durante a última semana de abril, no contexto de ensino a distância.  A interação com os alunos foi feita através das ferramentas Google (Classroom e Meet). Foram fornecidas instruções durante a aula síncrona (videoconferência) e apresentadas na Classroom as informações e recursos a mobilizar para a realização da tarefa de forma assíncrona.

O conteúdo curricular trabalhado insere-se no domínio do “Som” e no subdomínio dos “atributos do som”. Os alunos já tinham abordado os conceitos relativos à representação gráfica de ondas sonoras e às caraterísticas das mesmas, pois foi apresentada por mim uma simulação de um osciloscópio (Virtual Osciloscope disponível em https://academo.org/demos/virtual-oscilloscope/). Nem todos os alunos usam computador e tenho alunos a aceder através de tablets e telemóveis. Além disso, alguns alunos têm versões antigas de software e não conseguem abrir este tipo de simulações. Desta forma, os conceitos de frequência, período e amplitude foram apresentados por partilha do meu ecrã, através da manipulação do sinal do osciloscópio virtual e percutindo um diapasão real de 400 Hz que tenho em casa. Nesta aula apenas apresentei aos alunos, com recurso à simulação, representações de sons puros. Relativamente à frequência, apenas visualizaram na simulação, de forma dinâmica, a representação de ondas de maior e de menor frequência ou de maior e menor amplitude. Mas nada lhes foi dito sobre as relações entre os atributos do som e as caraterísticas dos sinais obtidos.  Propositadamente não usei outras fontes sonoras, pois também não queria apresentar informação sobre sons complexos. Isso era um objetivo para a tarefa a realizar de forma autónoma.

Na tarefa que lancei para ser desenvolvida de forma autónoma o objetivo era levar os alunos a estabelecer relações entre os atributos do som e as caraterísticas do sinal obtido, assim como interpretar os fatores que os fazem variar. Também teriam de observar sinais correspondentes a sons complexos. Nesta tarefa os alunos tiveram de combinar a realização de atividades de caráter experimental com recurso a material disponível em casa e recorrendo a uma aplicação móvel gratuita como forma de aquisição de dados.  As Apps sugeridas foram Sound Analysis Osciloscope, Sound Wave e Spectroid. Muitos alunos, usaram outra App (Detetor de decibéis e ruído) que não permitiu responder à tarefa solicitada, mas cujo trabalho produzido usarei para explorar posteriormente os conceitos relativos ao nível sonoro e ao ruído.

Toda a atividade foi orientada por um guião, de modo a conduzir as ações dos alunos (uma vez que não tinha outra forma de mediar o trabalho). Cada aluno, individualmente, teve de gravar um vídeo onde explorou, com recurso a um instrumento disponível em casa, a captura de sinais com o telemóvel, fazendo variar a intensidade ou tocando diferentes notas musicais. Foi também sugerido que usassem instrumentos “alternativos” como dois fios de algodão de diferentes espessuras e comprimentos ou réguas de diferentes massas, cujo comprimento faziam variar prendendo-as na mesa com um livro e copos todos iguais com diferentes níveis de água no seu interior, percutidos com uma colher. Como forma de registo, os alunos teriam de gravar em vídeo (mostrando o instrumento e o ecrã de captura e registo do sinal no telemóvel) e explicitar qual o fator que estavam a fazer variar (fazendo locução áudio ou introduzindo legendas). Assim, fez-se a interligação entre uma atividade experimental tradicional, sugerida no próprio manual do aluno, mas incorporando o recurso à tecnologia disponível no telemóvel e ao registo em vídeo. Desta forma trabalharam-se os conceitos de altura, intensidade e timbre e os alunos puderam investigar sobre os fatores que os fazem variar (massa, comprimento das cordas e comprimento da coluna de ar). Os alunos tiveram de realizar os respetivos registos, de acordo com o guião fornecido, e no caso dos fios ou réguas de diferentes massas e comprimentos e dos copos com diferentes níveis de água, tiveram de inferir pela comparação dos sinais obtidos, qual era mais grave ou mais agudo, relacionando-os com as caraterísticas da onda obtida e associando-os às particularidades dos instrumentos de corda ou de sopro. Para comparar os sinais obtidos, foi sugerido que, com auxílio de um familiar que tocasse o instrumento, os alunos fizessem printscreens dos sinais obtidos e os usassem para fazer as respetivas medições e comparações, incluindo-os nas respostas às questões orientadoras do guião fornecido.

A atividade ainda não foi concluída em todas as turmas, mas a avaliação é muito positiva. Por um lado, a aprendizagem conceptual demonstrou estar a ser bem conseguida, por outro, as respostas dos alunos a um questionário de satisfação (Google Forms) que foi fornecido através da Classroom indicam que gostaram muito desta atividade, envolveram os pais e outros familiares e referiram que gostariam de fazer mais atividades deste género. Verifiquei que os alunos que normalmente têm piores resultados académicos na disciplina se envolveram muito mais ativamente, demostraram ter adquirido melhores aprendizagens e foram mais criativos.

Esta atividade pode facilmente ser reproduzida em outros contextos, presencial ou a distância, tirando partido do potencial das aplicações moveis para registo e aquisição de dados durante realização de atividades de caráter experimental. Além disso, apenas requer materiais de uso comum e um telemóvel.

%d bloggers like this: