Dias de remediação: Atividades com pais no computador

Os dias de ensino a distância que foram ou vão sendo longos mostraram que tanto a integração pedagógica da Internet como a articulação entre a escola e o lar nos colocam perantes desafios próprios. Vem este texto a propósito do artigo no Observador de Ana Kotowitcz.

Parece-nos oportuno relembrar a proposta que dá pelo nome de Atividades com Pais nos Computadores, em que encontramos uma reflexão sobre a relação dos professores com o contexto escolar. Nesse trabalho, sugeríamos que os meios digitais (e mais recentemente a Internet) tornam-se peças chave para pôr em relação os contextos escolares e familiar. Não se trata, porém, e aqui reside o principal desafio, de uma mera extensão das competências pedagógicas do professor.

A promoção de uma relação mais intensa e fecunda com os pais, encarregados de educação, e outros elementos da rede relacional dos alunos é exigente para o professor. No entanto, não implica a reconversão do professor em psicólogo, sociológo, ou assistente social. O modelo APC tenta justamente mapear esse terreno que se encontra nas fronteiras da ação pedagógica do professor.

O contexto de ensino a distância forçado e inesperado implicou adaptações radicais, cujo sucesso é duvidoso. Será ainda tanto mais duvidoso quanto a recuperação de aprendizagens seja deixada aos recursos familiares. Neste caso, há boas razões para recear que os recentes resultados do PISA venham ainda a deteriorar-se mais no que diz respeito à probalidade de insucesso dos alunos socialmente desfavorecidos. Atualmente, em Portugal, um aluno desfavorecido tem sete vezes mais hipóteses de ter fraco rendimento académico do que um aluno favorecido (Liebowitz et al., 2018). Eis um número que fala por si; um número que devemos combater.

O impacte dos últimos dois anos nas jovens gerações só poderá ser contrariado através de programas consistentes que promovam mais horas de estudo e maior qualidade de estudo. O modelo APC, parece-nos, oferece aos professores um quadro para alargar a sua ação ao contexto familiar, usando dos media digitais, de forma intencional. Assim, os dias que aí vêm transformam-se numa oportunidade para aprofundar e desafiar os limites do modelo, adaptando-o, modificando-o, tornando-o sensível à realidade; substituindo-o se necessário por outros mais adequados e sensíveis. Mas o momento para contrariar o impacte estrutural nas gerações mais novas e nas mais desfavorecidas é este.

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